quarta-feira, 2 de novembro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 3

Por D. M. L. Jones

"Vocês não precisam estar sob esse espírito de escravidão". Por que não? Porque o Espírito Santo está em vocês e Ele os fortalecerá e lhes dará poder. Paulo está sempre repetindo essa mensagem. Ouçam-no novamente em Filipenses 2:13: "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". "Operai a vossa salvação". Como? "Com temor e tremor". Somos um pouco sadios demais hoje em dia. "Operai a vossa salvação com temor e tremor". As pessoas não temem no momento da conversão, e prosseguem não temendo; não conhecem o significado da palavra tremor: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". Isso é o Espírito novamente. Este é o modo de se livrarem desse espírito de escravidão e desse falso espírito de temor. Devemos nos conscientizar de que o Espírito de Deus está em nós. Devemos olhar para Ele, buscar Sua ajuda e confiar nEle. Isso não quer dizer que devemos ser passivos.

Significa que cremos, e enquanto lutamos Ele está nos fortalecendo. De fato, nem sequer teríamos nos dado o trabalho de nos esforçar, se Ele não nos tivesse induzido a isso. Ele opera em nós, e nós trabalhamos, e quando compreendemos isso, a tarefa não é impossível. Paulo, na passagem paralela no quarto capítulo de Gálatas diz: "Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho" — o Espírito do Seu próprio Filho. Acaso compreendemos que, como cristãos, temos em nós o mesmo Espírito Santo que estava no Filho de Deus quando Ele esteve aqui na terra? O Pai dá o Espírito, e é o mesmo Espírito que estava no Filho que é dado a nós. O Espírito que O capacitou é o mesmo que nos capacita. Esse é seu argumento.

Passando para o segundo princípio, a presença do Espírito Santo em nós nos lembra do nosso relacionamento com Deus. Esta é uma coisa maravilhosa. "Não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai". A presença do Espírito Santo dentro de nós nos lembra da nossa filiação, sim, nossa filiação adulta. Não somos infantes, o próprio termo significa que somos filhos crescidos e alcançamos a idade adulta. Somos filhos no sentido mais amplo e em possessão de todas as nossas faculdades. Uma compreensão clara disso nos livra do espírito de escravidão que leva ao temor. Não dissipa o "temor reverente e piedoso", mas dissipa o temor trazido pelo espírito de escravidão.

Nossa vida cristã deixa de ser uma questão de regulamentos e regras, e passa a ser marcada pelo desejo de expressar nossa gratidão por tudo que Ele fez por nós. Isso, todavia, não esgota o assunto. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo". Observem o argumento, a lógica irrefutável. Se somos filhos de Deus, então estamos relacionados com o Senhor Jesus Cristo. Ele é "o primogênito entre muitos irmãos", e somos parte da família de Deus como filhos e herdeiros.

Vocês já observaram a coisa assombrosa que João diz no capítulo 17, versículo 23? Notem as palavras do Senhor, quando Ele ora ao Pai: "Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim". Nosso Senhor diz ali que Deus o Pai nos ama como amou a Ele, o unigênito Filho de Deus. Então começamos a entender isso, que agora somos filhos de Deus. Temos esta nova dignidade, esta nova posição elevada e gloriosa em que nos encontramos.

Voltem novamente àquela oração sacerdotal e observem como o Senhor diz que devemos glorificá-lO neste mundo exatamente como Ele glorificou Seu Pai. Vocês já tinham percebido isso? Isso é a vida cristã, essa é a razão de viver a vida cristã; é compreender que pertenço a Deus e que devo glorificá-lo. É assim que devo encará-la. Que posição maravilhosa! E o Espírito está em mim, e me capacita a fazê-lo. Ele transforma minha perspectiva, e eu perco o espírito de escravidão que leva ao temor. É assim que eu o entendo; entendo que o Espírito Santo habita em mim.


Retirado do livro "Depressão Espiritual"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SÉRIE: O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO - PARTE 2


Por D. M. Lloyd Jones

Este "espírito de escravidão" sempre vem acompanhado de um espírito de temor. "Deus não nos deu o espírito de escravidão", escreveu Paulo aos gálatas, mas aqui ele o expressa assim: "Não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor". Bem, em que sentido isso produz um espírito de temor? Em primeiro lugar, tende a produzir um temor errado de Deus. Há um temor de Deus que é certo, e se o negligenciamos ou ignoramos, é para nosso próprio risco; mas há também um temor de Deus que é errado, é um temor covarde, um temor que traz consigo tormento. Creio que as pessoas que estamos considerando tendem a desenvolver esse tipo errado de temor. Olham para Deus como se fosse um capataz, consideram-nO alguém que está constantemente vigiando o que fazem para descobrir falhas e erros nelas e puni-las de acordo. Outras pensam em Deus apenas como um severo e distante legislador.

Entretanto, não é somente um temor de Deus, é também um temor da grandeza da tarefa. Tendo esboçado a tarefa para si mesmas, agora começam a temê-la. Por essa razão pensam que só podem viver a vida cristã se se segregarem do mundo, e que ninguém pode estar envolvido numa carreira ou profissão, e ainda viver a vida cristã. Torna-se então um temor e terror; elas passam a ter medo da tarefa. Essa é sua atitude para com a vida cristã. Não têm alegria porque a natureza gigantesca da tarefa enche-as de um espírito de temor, e estão constantemente perturbadas consigo mesmas, perguntando-se se realmente podem viver essa vida como ela deve ser vivida. Então, uma outra forma em que este espírito de temor se manifesta, é que essas pessoas têm a tendência de temer o poder do diabo de uma forma incorreta. É preciso qualificar cada uma destas declarações. Existe um temor do diabo que é certo. Encontramos isto mencionado na Epístola de Judas, e também na Segunda Epístola de Pedro. Há pessoas volúveis, espiritualmente ignorantes, que fazem piadas sobre o diabo simplesmente porque são completamente ignorantes a respeito dele e do seu poder. Mas, por outro lado, não devemos nos sujeitar a um temor covarde do diabo. As pessoas que estamos considerando sentem esse temor porque estão conscientes do seu poder. São pessoas espirituais — esta é uma tentação peculiar a algumas das melhores pessoas — e vêem este assombroso poder, o poder do diabo contra elas, e sentem medo.

Ficam igualmente apavoradas com o pecado que está dentro delas. Estão o tempo todo acusando a si mesmas, e falando sobre o pecado e a perversão do seu próprio coração. Aqui, novamente, precisamos manter o equilíbrio. O cristão que não está consciente de sua própria pecaminosidade e da perversão do seu próprio coração não passa de uma criança na fé cristã; na verdade, se ele não tem qualquer consciência disso, eu questiono se realmente é um cristão. Claramente, de acordo com as Escrituras, pessoas que não têm consciência de sua pecaminosidade, ou são principiantes ou nunca foram regeneradas. Mas isso é diferente de se ter um espírito de temor, e viver nesta condição em que a vida não passa de um "desprezo aos prazeres, e viver dias laboriosos".

Essa é a mensagem, e de acordo com o apóstolo ela opera de duas formas. A primeira é que, ao confrontar esta imensa e gloriosa tarefa de negar-me a mim mesmo, tomar a cruz e seguir o Senhor Jesus Cristo, eu entendo que devo andar neste mundo como Ele andou. Ao compreender que nasci de novo e fui transformado por Deus segundo a imagem do Seu amado Filho, e ao começar a perguntar: "Quem sou eu para poder viver assim? Como posso ter esperança de alcançar isso?" — aqui está a resposta, a doutrina do Espírito Santo, a verdade que o Espírito Santo habita em nós. O que isso ensina? Antes de tudo, faz-me lembrar do poder do Espírito Santo que está em mim.

O apóstolo já disse isso no versículo 13, onde ele trata da questão de como parar de viver na carne — "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis". Aqui ele volta ao mesmo ensinamento: "Porque Deus não nos deu o espírito de temor". "Vocês precisam entender que não estão vivendo por suas próprias forças", ele diz a esses romanos. "Vocês estão pensando nesta tarefa como se tivessem que viver a vida cristã por si mesmos. Vocês sabem que foram perdoados, e podem dar graças a Deus que seus pecados foram apagados e lavados, mas parecem pensar que isso é tudo, e que foram deixados para viver a vida cristã por si mesmos. Se pensam assim", diz Paulo, "não é de espantar que estão vivendo sob um espírito de temor e escravidão, porque desse ponto de vista a coisa é totalmente sem esperança. Significa simplesmente que vocês têm uma nova lei, que é infinitamente mais difícil do que a velha lei. Mas esse não é o caso, porque o Espírito Santo habita em vocês". [...] A diferença essencial entre o homem natural e o cristão, é que o último tem o Espírito de Cristo habitado nele. Qualquer que seja a experiência que um homem teve, se ele não tem o Espírito de Cristo, ele não é um cristão: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele".


Continua...